No dia 15 de dezembro de 2021, Bárbara Sueiro foi convidada a apresentar uma palestra sobre seu projeto de conclusão no LIDE quanto a segurança alimentar. Abaixo, fornecemos um resumo de seu projeto:
Um total de 19 milhões de brasileiros sofreram com a fome durante a pandemia ao longo do ano passado. Eles estão entre as 116,8 milhões de pessoas que registraram algum grau de insegurança alimentar no final do ano passado, o que alcança 55,2% dos domicílios— segundo pesquisa da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional. Além de ser o maior índice em 17 anos, é quase o dobro do registrado em 2018, quando o IBGE identificou 10 milhões de brasileiros nessa condição. A pandemia iniciada em 2020 trouxe consigo uma crise econômica sem precedentes, e não sabemos por quanto tempo ainda irá impactar a segurança alimentar.
Como podemos pensar em soluções para esse problema por um viés sistêmico que englobe fatores sociais, econômicos, regenerativos e com alta adesão? E qual o papel do Design nessa solução?
O desenho de cadeias de alimentos mais acessíveis passa por uma estratégia sistêmica em parceria com atores de todas as fases da cadeia, desde a produção até o consumo. A proposta é a construção de um sistema cíclico no uso dos recursos necessários para se produzir alimentos— como acontece na natureza— a partir das oportunidades observadas em cada ponto de dor, tanto dos usuários quanto da cadeia produtiva. O resultado final deve inserir o potencial de trabalho de pessoas em vulnerabilidade alimentícia na gestão dos bens no sistema, por meio da educação e interfaces interativas.
O objetivo do projeto pretende atuar na área do design para a inovação social dentro de um contexto de economia criativa para um sistema de economia circular. Com enfoque na comunidade do Bonfim visa facilitar as trocas interdependentes de alimentos e insumos agroecológicos— adubo natural, sementes e mudas— para a erradicação da fome local e para a soberania alimentar da produção agrícola.
Com um sistema integrado de hortas comunitárias, banco de alimentos comunitário— em parceria com a Prefeitura e o COMSEA (Conselho Municipal de Segurança Alimentar)— e educação agroecológica, é desenhado um ciclo de fortalecimento recíproca das partes envolvidas, com o objetivo comum de segurança e soberania alimentar local. As parcerias de redes cidadãs, instituições públicas e empreendimentos de capital privado são base para o trabalho local no Bonfim, bairro de Corrêas com forte produção agrícola e que possui parte do bairro em situação de insegurança alimentar, na região serrana do Rio de Janeiro.
Observa-se quatro pilares fundamentais do projeto:
- Economia solidária (participação social na gestão de bens comuns)
- Economia circular (auto sustentação do sistema e geração de renda)
- Educação agroecológica (manutenção do sistema e regeneração de recursos naturais)
Esses devem ser inseridos como parâmetros prioritários, de forma a aproveitar todos os recursos produzidos de maneira ecológica e participativa. A economia circular é necessária visto que um terço dos alimentos no mundo são desperdiçados— de acordo com o relatório da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) divulgado em 2021. Pelo lado da produção, a pressão que a agricultura convencional causa na saúde humana e na biodiversidade terrestre gera um ciclo de instabilidade para a colheita de alimentos e uma calamidade na saúde pública, evidenciando a importância da transição agroecológica na produção de alimentos. E, por último, a importância do fortalecimento de laços comunitários locais e do acesso à educação frente à questão econômica da pobreza, questões diretamente relacionadas à insegurança alimentar.
Um sistema com objetos que funcionem como interface para as interações, facilitando e oficializando as trocas pelos participantes e parceiros, sempre em parceria com a comunidade e com todos os atores envolvidos— internos ou externos. Pois falar de segurança alimentar é falar de transformação coletiva. A mudança para uma nova lógica alimentar, social e ambiental, mais equitativa, poderá ser construída por várias mãos por meios interdisciplinares.
Vamos junt@s?
Bárbara Sueiro.